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Adolescente é agredido por policial em abordagem: "Pensei que ia morrer"

Na hora, pensei que ia morrer. Eu disse que era trabalhador, mas não adiantou. Ainda tenho medo. O relato feito ao UOL é do adolescente de 16 anos vítima de agressões e insultos racistas praticados por um policial militar durante uma abordagem na noite do último domingo (2), no bairro de Paripe, periferia de Salvador.

Durante a ação, o agente dá socos e chutes na vítima, que aparece encostada em um muro ao lado de outro rapaz. Em seguida, arranca o boné do jovem e fala sobre o seu cabelo, com penteado black power e descolorido nas pontas.

Você, pra mim, é ladrão. Você é vagabundo. Essa desgraça desse cabelo aqui, ó! Essa desgraça. Você é trabalhador, é, viado?, grita o policial, enquanto agride o jovem.

O PM só cessa as agressões após ser chamado por um dos colegas, que o aguardam retornar para a viatura.

As cenas foram registradas por um morador da região e divulgadas nas redes sociais. A Polícia Militar informou hoje que o agente foi identificado após análise das imagens (leia nota mais abaixo). Ele, que não teve o nome divulgado, é lotado na 19ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar) de Paripe.

Ainda assustado, o adolescente conversou com o UOL sob condição de anonimato, pois teme sofrer represálias com a repercussão do caso. Ele contou que o ataque ocorreu quando retornava para casa na companhia de mais dois amigos. Os três seguiam a pé e resolveram parar para falar com um outro rapaz que passava de carro.

A gente tinha acabado de levar a amiga da minha namorada na casa dela, lá em Paripe. Depois disso, a gente resolveu voltar andando, já que naquele horário não passava ônibus. No meio do caminho, quando paramos para falar com um conhecido da gente, que estava no carro, a viatura apareceu, diz. O jovem afirma que três policiais desceram do veículo e foram na direção do grupo.

Um deles me colocou no muro, junto dos outros colegas. Os outros dois abordaram o carro, mas não chegaram a fazer revista. O que me agrediu perguntou o que a gente fazia ali, o que estava acontecendo. Eu falei que não estava acontecendo nada. Falei era trabalhador, que estudava. Do nada, fui chamado de ladrão, de vagabundo. Aí ele [o policial] só parou de me bater quando o outro o chamou pra ir embora, narra.

Só pensei no pior, não vou mentir, acrescenta o jovem.

O adolescente, que mora com a mãe, o padrasto e dois irmãos (de 10 e 14 anos), cursa a 8ª série do ensino fundamental e faz bicos.

Em razão das recentes agressões, diz que cogita até mesmo cortar o cabelo, embora resista à ideia, já que até então nunca havia sido alvo de preconceito.

Deixei crescer há um ano e três meses. Combina comigo.

Família revoltada

Tia do adolescente, a bombeira civil Verônica Barros, 38, diz que as agressões sofridas por ele revoltaram seus familiares. Ao UOL, ela contou que o boletim de ocorrência sobre o caso seria registrado na tarde de hoje.

Foi muito chocante. É uma coisa que a gente não teve coragem de ver direito. Ficamos sem palavras. Uma cena