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Morre-se mal no país, dizem médicas; veja debate sobre cuidados paliativos

O índice da qualidade do morrer no mundo, realizado pela Unidade de Inteligência da “The Economist”, indicou o Brasil em 42° lugar dos 80 países analisados. Na América Latina, o país perde para Chile (27º), Argentina (32º), Uruguai (39º) e Equador (40º). Reino Unido lidera o ranking.

Essa é a segunda edição da pesquisa e foi divulgada nesse mês. Na primeira, de 2010, o Brasil ficou em 38° lugar, de 40 países observados.

A divulgação do recente índice foi recebida como uma possibilidade de oportunidade ao país pelas médicas atuantes em cuidados paliativos Maria Goretti Salles e Ana Paula Santos. Ambas participaram de debate ao vivo à TV Folha nesta quarta (21), mediada por Camila Appel, responsável pelo blog 'Morte Sem Tabu'.

A análise da qualidade do morrer é feita com base na disponibilidade de cuidados paliativos, recursos humanos (formação dos profissionais na área), qualidade do cuidado e nível de engajamento da comunidade.

Para a organização do ranking, levou-se em consideração dados oficiais, pesquisas existentes e entrevistas com profissionais da área. No Brasil, apenas Goretti foi entrevistada. 'Mal temos dados oficiais para divulgar', afirma.

Na conversa, as médicas falam sobre o conceito de cuidados paliativos, a filosofia do hospice (local de tratamento de pacientes terminais), os desafios da área e a necessidade de ser integrado à grade curricular das faculdades de medicina. Para elas, um novo olhar, defendido pelos paliativistas, deveria fazer parte da formação de todo médico.

Esse olhar considera o doente como parte de um núcleo familiar e social. Suas necessidades vão além das físicas e há uma preocupação com o bem-estar dos parentes. Faz-se um acompanhamento da família no luto, por exemplo.

As médicas mencionam a necessidade de elaboração de políticas públicas de gerenciamento da dor e do aumento do acesso a analgésicos e opiáceos. Para Ana Paula Santos, a morfina, por exemplo, é pouco receitada devido a preconceitos e má informação.

Goretti considera as confusões conceituais sobre cuidados paliativos prejudiciais para o fortalecimento da área, como considerar-se que paliativo é a suspensão de tratamentos. A médica vê uma oportunidade no crescente interesse da sociedade, no aumento da oferta de cuidados paliativos no Brasil e na procura por cursos de formação.

Tiramos nota 4,2. Se fosse uma prova, seríamos reprovados, diz Goretti, que também afirma que morre-se mal no país.

Sobre o lidar com a morte em seu dia a dia, as médicas afirmam que é impossível não se envolver. Consideram ainda que a morte em si não é o que mais entristece, e sim ver alguém morrendo com dor e mal amparado.