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Fora da Curva #15: Afetos estão mudando o jeito de ver o outro na pandemia

No episódio 15 do podcast Fora da Curva, a empreendedora e criadora de conteúdo Monique Evelle entrevista a antropóloga de consumo Monique Lemos. Entre os assuntos estão nossa capacidade de conviver cada vez mais próximos com o isolamento social e o quanto o digital pode ser uma válvula de escape para encontrar companhia e afeto.

Lemos questionou a noção de companheirismo, e explicou como enxerga a convivência de casais nesse período em que a proximidade aumentou significativamente, assim como o tempo de convivência (ouça a partir de 6:22).

Companheirismo é só você ter alguém no final do seu dia para assistir Netflix, ou ele é ter alguém para você compartilhar medos e todos os seus processos? [...] Ninguém lava louça do mesmo jeito, e a gente não sabe o jeito das pessoas de fazerem as coisas, nem da pessoa que a gente convive todo dia. Então, é uma chance de você se conectar em um nível muito mais profundo com essa pessoa, e de finalmente oferecer e receber tempo. Disso a gente estava completamente desacostumado, comentou a antropóloga.

Evelle trouxe à pauta a realidade de convívio aumentado nas periferias brasileiras e questionou Lemos se essa relação tem características diferentes nessas regiões.

Tem muita gente na rua e muita gente que mora nas favelas [...] está reclamando disso. As pessoas estão muito na rua. Elas não estão acreditando, não estão levando a sério, e aí acho que tem muitas camadas que precisam ser lidas para você dizer 'ah, as pessoas estão na rua, ai meu Deus, elas são erradas, elas não têm informação!' Tem uma constante desvalorização desses corpos [...] as pessoas já não têm as suas vidas valorizadas constantemente [...] existe um esquecimento intencional, uma morte constante intencional, então muita gente não vai ter medo de um vírus. Vai ter medo de algumas outras coisas, todo dia ela tem outros medos, e nesse momento ela quase que desafia o vírus, sabe?, comentou Lemos (a partir de 11:18).

Monique lembrou o caso ocorrido no Rio de Janeiro na segunda-feira (18), do adolescente João Pedro, baleado dentro de casa durante uma ação policial, e o quanto o medo de morrer não vem só pelo vírus e muda de acordo com o contexto social.

Lidar com a morte num sentido mais próximo, até então só um grupo majoritário no Brasil estava lidando [...] A morte acaba sendo parte dos dias, isso é muito triste [...] Ela é finalmente um medo fundante, que estrutura e que atravessa [...] todos os corpos. Ainda assim, quem tem mais privilégios é menos afetado, e é só por isso que a gente ainda vê comerciais dizendo que a vida vai voltar ao normal [...] O novo normal é de novo sobre dinheiro, de novo sobre poder. De novo, você exclui as pessoas (a partir de 27:03).

Monique Lemos é produtora há oito anos, trabalhou em agências como Flagcx, Hood, Soko, Edelman e teve clientes como Melissa, A Casa do Porco, Absolut, Avon, Converse e Nike. Lemos soma suas experiências à formação