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Ciência aposta em insetos modificados para reduzir a transmissão de doenças

Enquanto não se entende por que o controle da população de mosquitos não dá conta do combate contra zika, dengue e outras arboviroses, a ciência tenta reforçar o arsenal contra o aedes com novas tecnologias.

A arma secreta, produzida e explorada por empresas, organizações sociais e universidades do país e do mundo, são insetos-espiões, modificados para tentar reduzir a transmissão das doenças. Há mosquitos para todos os gostos: transgênicos, bombardeados com radiação gama, manipulados por bactérias ou até com duas dessas características ao mesmo tempo.

A tendência é que o cardápio de aedes aumente muito em breve. Quanto mais produtos e quanto maior a concorrência, melhor para a população, diz Margareth Capurro, pesquisadora de aedes transgênicos do Instituto de Biociências da USP. Uma de suas linhas de estudo envolve a modificação de um gene suicida, que levaria o mosquito à morte ao entrar em contato com os vírus da dengue e da zika.

O primeiro teste no Brasil com esses aedes infiltrados aconteceu na Bahia, em 2011. Nasceu de uma parceria entre a empresa britânica Oxitec e a organização social brasileira Moscamed. A primeira era a proprietária da linhagem de aedes geneticamente modificados com o objetivo de reduzir a população dos insetos; a segunda ficou responsável por avaliar e implantar a tecnologia.

O truque da Oxitec envolve inserir um gene nos mosquitos que mata a prole antes da fase adulta. Funciona assim: quando os machos com o gene fatal são soltos na natureza, eles buscam fêmeas para se acasalar. Elas, por sua vez, geram filhotes inviáveis. Com isso, a população do inseto diminui.

Foi o que aconteceu no bairros de Pedra Branca e Juazeiro, em Jacobina (BA). Os aedes transgênicos soltos até setembro de 2015 reduziram a população total de mosquitos em 79% e 93%, respectivamente. Agora, com o fim do projeto, o esperado é que a população do mosquito aumente novamente.

Depois das cidades baianas, foi a vez de Piracicaba (SP) testar os insetos transgênicos. No verão de 2014-2015 para o de 2015-2016 não só houve redução de 91% da população de mosquitos em um dos bairros da cidade como os casos de doença também caíram de 133 para 12. Na cidade toda a redução de casos foi de 52%.

Em 2014, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, órgão responsável por verificar a segurança de novas biotecnologias no Brasil) aprovou a liberação comercial da linhagem da Oxitec. No mesmo ano, a empresa pediu licença à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para comercializar os mosquitos.

O aval, temporário, veio em abril de 2016. Na época, a Anvisa afirmou que analisaria e concederia o registro definitivo desses produtos após avaliação de sua segurança e eficácia --sinal de que a liberação total deve ocorrer apenas após a ampliação dos estudos.